Grande Futebol
Akinfeev e uma carreira cheia de episódios para esquecer... até agora
2018-07-01 20:00:00
O guarda-redes é o novo herói nacional na Rússia após os penáltis defendidos frente à Espanha

A vida tem destas coisas. Há quatro anos, no Mundial do Brasil, Igor Akinfeev foi um dos principais responsáveis pela desapontante prestação russa na prova, quando, no primeiro jogo diante da Coreia do Sul, deu um frango daqueles que ficam na história. Hoje, o guarda-redes que tem um péssimo gosto musical é o herói nacional depois de defender dois pontapés de penálti atirando a toda poderosa Espanha para fora do Campeonato do Mundo da Rússia. Eis a história do guardião que foi apontado como sendo o sucessor do lendário Lev Yashin quando se tornou, aos 18 anos, o jogador mais jovem a estrear-se pela seleção do seu país.

O jogo inaugural da Rússia no Mundial de 2014 foi contra a Coreia do Sul e tinha tudo para ser uma entrada com o pé direito no torneio, mas a verdade é que foi tudo menos isso e o grande responsável foi mesmo Igor Akinfeev. Quando o resultado estava ainda em 0-0, o guarda-redes do CSKA Moscovo deu um frango de todo o tamanho. Depois disso, o melhor que a seleção russa fez foi chegar ao golo do empate, mas a equipa sentiu o golpe e nunca mais recuperou. Perdeu o segundo jogo frente à Bélgica e empatou o terceiro diante da Argélia. A Rússia estava fora do Mundial brasileiro e Akinfeev com o carimbo de frangueiro.

Mas se há algo que aprendemos nesta nossa experiência terrena é que seria necessário mais do que apenas um frango para abalar a vida de um russo. Igor Akinfeev manteve o seu estatuto de indiscutível na seleção e foi um dos pilares para a preparação da equipa para o Campeonato do Mundo que se realizaria daí a quatro anos, na sua Rússia natal. Afinal de contas, Akinfeev, que se estreou em 2004 com as cores da federação russa quando tinha apenas 18 anos, tornando-se o mais jovem de sempre a fazê-lo, chegou a ser apontado como o sucessor de Lev Yashin, o lendário guarda-redes que defendeu a baliza da antiga União Soviética entre 1950 e 1970.

E se há um russo a merecer o estatuto de herói nacional após a vitória - nos pontapés de penálti - frente à seleção espanhola, esse homem é Igor Akinfeev e nem nos estamos a referir aos dois penáltis defendidos pelo guardião de 32 anos. É que a vida tem colocado algumas pedras no caminho do guarda-redes que apenas conheceu um clube desde que começou a jogar futebol aos quatro anos, o CSKA Moscovo. Por exemplo, Akinfeev já foi atingido por um very-light em pleno relvado; esteve onze anos a sofrer golos em todos os jogos para a Liga dos Campeões e tem um gosto musical muito questionável.

Ora, a cena do very-light foi assim: A Rússia estava em Montenegro para disputar um jogo com a seleção local para a fase de qualificação do Europeu de 2016. Escusado será dizer que o ambiente no estádio estava de cortar à faca e com treze segundos de jogo, apenas, um very-light, lançado das bancadas, atingiu Akinfeev na cabeça. Felizmente, tudo não passou de um grande susto e Akinfeev recuperou do incidente sem grandes problemas. O jogo recomeçou 30 minutos depois, terminando com um empate a zero. Mais tarde, a UEFA viria a determinar, por via administrativa, a derrota por 3-0 para a seleção montenegrina.

O recorde de jogos sempre a sofrer golos na Liga dos Campeões explica-se da seguinte forma: Igor Akinfeev esteve cerca de onze anos sem conseguir manter a zeros a baliza do CSKA Moscovo em jogos a contar para a Champions. Entre o empate a zero golos frente ao Arsenal, na fase de grupos da Liga dos Campeões de 2006/07, até à vitória por 2-0 diante do AEK Atenas na terceira pré-eliminatória da competição em julho de 2017, o guardião russo sofreu em todos os jogos que participou. Foi um total de 89 golos sofridos de forma consecutiva durante 43 jogos. Ora, para um guarda-redes que se quer entre a elite, este registo deve ter provocado muitas noites em branco a Igor Akinfeev.

Mas há mais um episódio para esquecer na vida do novo herói da Rússia. Um que tem na base o questionável gosto musical do guarda-redes que defendeu os remates de Koke e Iago Aspas. Um admirador confesso da banda russa Ruki VVerh (Mãos no Ar), muito popular entre a população jovem feminina, Akinfeev conseguiu mesmo algum tempo num estúdio de gravação com Sergey Zhukov, o cantor da tal banda techno/pop. O resultado... enfim, o resultado foi motivo de gozação por todo o país, o mesmo que agora clama pelo seu herói.

Como aqui demonstrámos, a vida de Igor Akinfeev tem sido tudo menos um passeio no parque e certamente alguns destes episódios terão passado pela cabeça de Akinfeev segundos depois de ter defendido, com o pé, o pontapé de penálti batido por Iago Aspas. A Rússia tinha acabado de eliminar uma das grandes favoritas à conquista do Campeonato do Mundo e o sonho russo de ver a sua equipa a fazer história diante do seu povo continua vivo. Bem vivo graças a Igor Akinfeev.