Grande Futebol
AIK e Botev Plovdiv, os adversários ao sonho europeu de Braga e Marítimo
2017-07-21 09:30:00
AIK e Botev Plovdiv surgem no caminho de Sporting Braga e Marítimo depois de vitórias impressionantes na ronda anterior

As vitórias caseiras de AIK e de Botev Plovdiv, ontem, colocaram os vice campeões suecos e os vencedores da Taça da Bulgária no caminho de Sporting Braga e Marítimo, respetivamente, na Liga Europa. O AIK, depois de um empate a zero perante o Zeljeznicar na Bósnia, fez valer o estatuto de favorito e, em casa, na Friends Arena, habitual casa da seleção sueca, bateu o vice campeão bósnio por 2-0. Já o Botev Plovdiv, que empatou a um golo em Jerusalém perante o Beitar na primeira mão, goleou o terceiro classificado do campeonato israelita de 2017 por 4-0.

Os encontros reportaram-se à segunda fase de qualificação rumo à Liga Europa. Para o AIK, a chegada à terceira fase de qualificação para a Liga Europa foi uma reedição do conseguido na temporada passada. Em 2016, porém, na terceira eliminatória de qualificação o AIK encontrou o Panathinaikos e tanto em Atenas como em Estocolmo, o conjunto sueco saiu derrotado pela equipa grega. Ultrapassar o Sporting de Braga seria uma superação face à temporada anterior para a equipa sueca.

Altos, loiros e toscos? Já não é bem assim...

Desde 2012 que o AIK não chega, sequer, à fase de grupos da Liga Europa. Nessa temporada, a equipa sueca terminou na quarta posição do campeonato, pelo que 2013 se estabeleceu como o último ano, até 2017, que o AIK ficou fora das competições europeias. O regresso à segunda posição do campeonato sueco de 2013, recolocou o AIK na rota europeia e desde então nunca mais falhou a presença nas fases de qualificação da Liga Europa. Contudo, a equipa caiu sempre na fase em que encontrará agora o Sporting Braga.

Em toda a história do futebol sueco, poucas equipas foram tão bem sucedidas quanto o AIK. Apesar de os seus cinco títulos nacionais lhe conferirem apenas o sétimo lugar nas equipas com mais títulos nacionais no futebol sueco, apenas o Malmo conquistou mais taças da Suécia quanto o AIK, além de nenhuma equipa sueca ter participado em tantos jogos da primeira divisão do país quanto o conjunto de Estocolmo. Desde 2009, porém, que a equipa de Solna não vence qualquer título. Nesse ano, liderados por Mikael Stahre, o AIK fez mesmo a dobradinha. Foi com o regresso aos títulos em vista que Rikard Norling chegou ao clube. Norling, que em 2013 se sagrou campeão sueco ao serviço do Malmö, não foi ainda feliz em Estocolmo mas demorou pouco tempo a impor a sua marca pela Friends Arena. Depois de pegar no AIK a 13 de Maio de 2016, Norling desmontou a estrutura montada por Andreas Alm em poucas semanas.

O 4-4-2 habitual do AIK, deu lugar ao moderno 3-5-2 tão em voga no futebol europeu. Em Jesper Nyholm, Norling tem a sua unidade em melhor plano na temporada 2017 da Allsvenskan. O defesa central da equipa, que atua habitualmente pelo lado direito do trio defensivo - do lado esquerdo joga o capitão, o titã e capitão Nils-Eric Johansson de 37 anos -, é um dos líderes do campeonato sueco em matéria de intercepções, um sinal da sua inteligência, maturidade (tem 23 anos) e capacidade de leitura e antecipação das jogadas adversárias. O nível mostrado por Nyholm ainda não lhe valeu a chamada à seleção sueca mas pouco começa a justificar a sua ausência das escolhas de Janne Andersson numa altura que, curiosamente, a Suécia até enfrenta um período de renovação e rejuvenescimento. Nyholm que tem ainda a curiosidade de ter dupla nacionalidade filipina pois essa é a nacionalidade da sua mãe. Naturalmente, enfrentou já o assédio da federação filipina para representar o país asiático a nível internacional algo que recusou.

Com Rikard Norling uma coisa é certa: o AIK é uma equipa muito difícil à qual fazer golos. É certo que também não marca muitos, mas os nove golos sofridos em 15 jogos na liga sueca deste ano impressionam e, na Allsvenskan, só o surpreendente Östersund e o campeão Malmö permitem menos remates por jogo, em média, que o AIK. Já em 2013, aquando do título conquistado pelo Malmö, só o Kalmar sofreu menos golos que uma equipa de Norling. Em Malmö, porém, a equipa de Norling mostrou um poder de fogo que ainda não encontrou em Solna. Na liga sueca, este ano, nenhum jogador marcou mais de três golos na competição. Curiosamente, fê-lo Enok Goitom que ontem fez um dos golos da vitória do AIK perante o Zeljeznicar num bonito gesto técnico - marcou de calcanhar. O futebol do AIK é sólido mas pouco dinâmico. Apesar da coesão defensiva que demonstra durante os momentos sem bola, com ela, o caminho para a baliza é bastante rudimentar explorando exaustivamente o poderio físico da dupla de avançados com lançamentos longos e diretos para o mesmo. Situação que é potenciada, lá está, por Jesper Nyholm que demonstra uma forte qualidade para colocar a bola de forma certeira nos seus companheiros do ataque - tanto Markannen como Goitum têm pelo menos um metro e noventa, sendo que Markannen chega quase aos dois metros.

Destaque ainda para os registos do AIK em matéria de golos sofridos em lances de contra ataque ou bolas paradas, momentos do jogo em que a equipa de Norling é a melhor da liga. Em 15 jogos, continua sem sofrer qualquer golo em lances de contra ataque e dos nove golos sofridos na liga sueca, apenas um teve origem numa situação de bola parada (curiosamente, não tem qualquer golo apontado em lances de bola parada ofensiva na liga mas ambos os golos com que derrotou o Zeljeznicar, ontem, surgiram após pontapés de canto). Com Norling, o futebol do AIK é ainda extremamente jogado pelo corredor central e a exploração dos flancos é quase nula. Nenhuma equipa da liga sueca ataca tanto pelo corredor central quanto o AIK (e só o Halmstad ataca menos pelo corredor direito), algo potenciado pela sobrepopulação do miolo do terreno da equipa sueca cujo 3-5-2 é, muitas vezes, 3-6-1.

Pode parecer um cliché mas não é. O AIK, de Norling mantém a matriz nórdica que habituou o futebol, uma abordagem sólida, física e direta, com a exceção de a transportar para um sistema de três centrais ao invés do tradicional 4-4-2. Na liga sueca, o AIK é somente a oitava equipa com maior posse de bola média e a décima equipa da liga com melhor percentagem de acerto de passe. Contudo, quando analisamos a taxa de sucesso dos confrontos aéreos das equipas suecas, a história é bem diferente. Só três equipas ganham mais duelos aéreos que o AIK, o que demonstra bem a capacidade da equipa no que ao jogo mais físico diz respeito. Porém, quando a bola chega aos pés de Kristoffer Olson ou Simon Thern, o AIK mostra outro perfume. Thern é mesmo o líder de assistência da equipa na liga sueca e, sim, é filho de Jonas Thern. Destaque ainda para Olson, médio formado no Arsenal e atual capitão da equipa Sub-21 sueca, bem como para o veterano Stefan Ishizaki conhecido particularmente pelos amantes dos jogos de simulação futebolística.

Búlgaros com toque de Samba

O Botev Plovdiv, porém, encerra um desafio muito diferente e o desconhecimento quase total relativo à equipa bulgara não ajudará o Marítimo. Longe de ser uma das equipas mais bem sucedidas da Bulgária, o Botev Plovdiv chegou à Liga Europa depois de vencer a Taça da Bulgária 16/17 perante o Ludogorets, potência recente do futebol búlgaro e atual hexa campeão do país. Para que se perceba a dimensão do feito, o Botev Plovdiv não vencia um título doméstico desde 1981, então, também a Taça da Bulgária.

Com apenas dois títulos búlgaros conquistados em toda a sua história, o Botev Plovdiv é somente o oitavo clube mais títulado do país sendo que o último título nacional conquistado pela equipa remonta já a 1967 e, o anterior, a 1929. O Botev Plovdiv que teve uma entrada em falso na primeira divisão búlgara 2017/18 ao perder em casa por 1-0 perante o Pirin. O sucesso no campeonato não é, afinal, habitual, na equipa de Plovdiv. Em 2016/17, apesar da conquista da Taça da Bulgária, o Botev Plovdiv não foi além da sétima posição no campeonato. Isto, num clube que ainda há meia dúzia de anos estava na terceira divisão do futebol búlgaro. Entre 2011 e 2013, porém, a equipa ascendeu de forma consecutiva da terceira divisão búlgara à primeira e na época de regresso ao convívio com os grandes do país, até alcançou a quarta posição. A melhor campanha dos últimos anos (e igualada em 2013/14), sendo que a prestação da equipa ao longo das temporadas, no campeonato búlgaro, tenha sido sempre descendente desde então. Após dois quartos lugares, o Botev Plovdiv fez sexto, sétimo e sétimo nas últimas três temporadas.

Apesar do sétimo lugar alcançado em 2016/17, o Botev Plovdiv foi até uma das piores defesas do campeonato búlgaro. Apenas o PFC Montana e o histórico Slavia de Sófia sofreram mais golos que o Botev, ainda que a equipa tenha sido – marginalmente – o terceiro melhor ataque da prova. Um registo que dificilmente voltarão a alcançar depois de terem perdido para o Ludogorets o seu melhor marcador em 16/17, o brasileiro João Paulo. Apenas Keseru marcou mais golos que João Paulo na liga e a capacidade financeira do Ludogorets não se fez esperar retirando o goleador brasileiro ao Botev para esta temporada. João Paulo foi ainda determinante na conquista da Taça por parte do Botev ao sagrar-se o melhor marcador da competição de 2017.

Habitualmente escalonado em 4-4-2, o Botev muta-se ainda, várias vezes, num 4-5-1, tendo agora em Todor Nedelev, antigo jogador do Mainz, a sua grande figura. Com a saída de João Paulo, Nedelev assume agora as depesas goleadoras da equipa, ele que em 2016/17 já fizera 11 golos na liga búlgara ao serviço do Botev (e é o único jogador da equipa habitualmente convocado para a seleção búlgara), tendo para esta temporada, a equipa do Botev, perdido ainda Antonio Vutov também ele uma das figuras da equipa durante 16/17 – Vutov estava emprestado pela Udinese e é agora jogador do Levski de Sófia.

Se a história e palmarés do Botev Plovdiv não impressiona, a vitória categórica e unilateral perante o Beitar terão de colocar qualquer adepto maritimista em estado de alerta. Perante o Beitar, as indicações deixadas pelos brasileiros Fernando Viana e Felipe Brisola não poderão ser ignoradas. Viana que perante a saída de João Paulo, tem agora caminho aberto para se assumir como uma das figuras do conjunto do Botev.