Grande Futebol
A ressurreição de Pablo sob mão divina de Bielsa no mais improvável dos cenários
2018-12-26 11:00:00
Aos 33 anos, o médio espanhol está a viver um dos melhores momentos da carreira contra todas as expetativas.

Aos 33 anos Pablo Hernández vive uma fase que, talvez nunca esperasse. Pela mão de Marcelo Bielsa, aos 33 anos, Pablo Hernández vive um dos melhores momentos da carreira quando talvez nada o fizesse esperar e o cenário não pudesse ser mais improvável. Por Leeds, ao serviço do Leeds United e no exigente fisicamente e altamente competitivo Championship. Se dúvidas houvessem, Pablo Hernández é o verdadeiro exemplo de que o talento não tem idade e de que a classe é permanente. Como um bom vinho, já foi comparado por Bielsa a Alexis Sánchez, Payet ou Burrito Ortega.

Foi um Pablo Hernández já sem nada a provar aquele que em 2016 chegou ao Leeds United, naquilo que se imaginava ser a reta final da carreira do espanhol numa curva descendente sem retorno possível. Pablo Hernández tinha cumprido o sonho. Nascido em Castellón de la Plana, formou-se no clube da terra, jogou pelo maior clube da comunidade valenciana, fez-se ídolo no Mestalla num dos maiores clubes do país, mudou-se para a Premier League, venceu títulos em Inglaterra, foi internacional pelo seu país e rumou às arábias para recolher financeiramente os dividendos desportivos de uma carreira bem sucedida. Ainda regressou ao seu país, para o Rayo, mas não conseguiu ajudar a equipa de Vallecas a evitar a descida à segunda divisão. Um passo que lhe parecia destinado, já que Leeds e o Championship foi a aventura seguinte.

Desde a saída do Swansea City em 2014 para ingresso no Al-Arabi do Catar que dificilmente se imaginava que Pablo Hernández pudesse ser por esta altura um dos jogadores em melhor forma do futebol europeu. A verdade, é que pela mão de Marcelo Bielsa, Pablo Hernández renasceu futebolisticamente ao ponto de atravessar mesmo um dos melhores períodos de sempre da sua carreira e seguramente o mais prolífico. Isto, depois de uma temporada em que o antigo internacional espanhol já tinha estabelecido o seu recorde de carreira em termos goladores. Um renascimento no mais improvável dos cenários.

Em 2018/19, Pablo Hernández está a ser, muito provavelmente, o melhor jogador do Championship. Com 16 jogos já disputados esta temporada pelo Leeds United, Hernández está a ser a maior figura do Leeds United de Marcelo Bielsa levando já sete golos apontados e por isso muito perto de realizar a melhor temporada da carreira em termos goleadores, estabelecida precisamente em Leeds na temporada passada quando apontou nove golos. É, porém, a sua capacidade de organizar e pautar todo o jogo do Leeds que tem feito a diferença.

Em 2018/19, nenhum jogador do Championship fez mais assistências para golo e criou mais oportunidades de golo do que Pablo Hernández. O médio espanhol regista em média mais de três passes chave por jogo, o máximo na competição, ainda que em valores totais apenas perca para Oliver Norwood no total de passes chave feitos. É dar-lhe tempo, já que o médio do Sheffield United leva mais quatro jogos do que Pablo Hernández.

Titular em quinze dessas dezasseis presenças pelo Leeds United, Pablo Hernández leva já nove assistências no Championship, o registo máximo da liga e das últimas 15 vezes que Hernádez foi titular pelo Leeds, em apenas três delas o médio espanhol ficou em branco no que a participação em golos diz respeito. Em todas as outras, Pablo Hernández registou pelo menos um golo ou uma assistência, tendo mesmo conseguido fazer duas assistências em três desses jogos, tendo ainda um outro jogo em que tanto marcou, como assistiu.

Aos 33 anos e depois de já ter passado pela Premier League ao serviço do Swansea City, clube pelo qual venceu uma Taça da Liga, dificilmente Pablo Hernández esperava estar por esta altura às portas de regressar à Premier League. A verdade, é que pelas mãos de Marcelo Bielsa, Pablo Hernández tem sido uma das grandes figuras de todo o futebol europeu e regista por esta altura uma segunda juventude no mais improvável dos cenários. A influência de Bielsa, afirma o próprio, é enorme.

“Quando soube que Bielsa seria o próximo treinador fiquei muito feliz. Conheço-o do trabalho que fez em Espanha no Athletic Bilbau e também das seleções nacionais da Argentina e Chile. Toda a gente o respeita imenso. Tem uma carreira muito bem sucedida e todos no Mundo do futebol o têm em grande estima. É um treinador especial e como homem é o ainda mais. Estou feliz porque conheço bem Bielsa e sou melhor jogador agora. Evolui imenso esta temporada. Regressei à minha posição de origem, como extremo direito, jogando menos no centro ou na esquerda e isso deixa-me muito feliz”, explica o antigo internacional espanhol.

Dissociar a melhor temporada de Pablo Hernández em vários anos do facto de Marcelo Bielsa ser o treinador do Leeds United é impossível. O regresso do médio espanhol à ala direita devolveu a Pablo Hernández um “mojo” há algum tempo perdido e o antigo internacional espanhol, massacrado por lesões ao longo da carreira, vai registando por esta altura uma segunda juventude no mais improvável dos cenários. A passagem de Pablo Hernández para a ala direita, identificada por Bielsa como a posição mais forte para o espanhol, resultou que a partir dessa posição Hernández já tivesse registado até esta altura os seus sete golos e seis das nove assistências feitas no Championship. Só em duas ocasiões como médio ofensivo centro e outra como ala esquerdo Pablo Hernández assistiu um colega sem ser a partir da ala direita.

Em Leeds desde 2016, faltam apenas três jogos para que Pablo Hernández se torne um centenário do clube e alcance as cem presenças ao serviço do histórico clube inglês. Em praticamente menos sessenta jogos, Pablo Hernández regista praticamente tantos golos e assistências do que aqueles que registou ao serviço do Valência em 157 jogos. Para igualar os registos alcançados por Mestalla, Pablo Hernández precisa apenas de três golos e duas assistências. Um verdadeiro rejuvenescimento no mais improvável dos cenários. A Premier League está, de novo, à vista. Quem diria.