Grande Futebol
A arte de ganhar Mundiais sem um número nove a marcar golos
2018-07-17 20:25:00
Os dois títulos da França em Campeonatos do Mundo foram conquistados com algumas semelhanças

A seleção nacional de França conquistou no último domingo o Mundial da Rússia, somando mais um troféu ao que havia levantado em 1998. Nas duas provas, os jogadores com a camisola número nove tiveram prestações em tudo semelhantes: foram os que mais vezes foram escolhidos para serem titulares na posição de ponta-de-lança e terminaram a prova sem marcar qualquer golo (para além de utilizaram igual número na camisola). Falamos de Stéphane Guivarc’h, em 1998, e de Olivier Giroud, em 2018.

Stéphane Guivarc’h utilizou o número nove na camisola no Mundial de 1998, o primeiro que os gauleses conquistaram em toda a história. Depois de uma temporada muito positiva ao serviço do AJ Auxerre, tendo apontado quase 30 golos em 1997/98, foi convocado por Aimé Jacquet para a prova que se realizou, precisamente, em solo francês. A concorrência era forte, como os então jovens Thierry Henry e David Trezeguet, mas a verdade é que foi mesmo Stéphane Guivarc’h a merecer a titularidade em mais ocasiões. Guivarc’h esteve no onze inicial quatro vezes em sete possíveis, contra as três de Henry e as duas de Trezeguet.

Apesar dos três golos de Henry ao longo da prova e do golo de Trezeguet contra a Arábia Saudita, o registo a seco de Stéphane Guivarc’h não fez com que o avançado deixasse de estar presente no onze inicial. Pelo contrário: das quatro titularidades do jogador que passou pelo Newcastle United e pelo Rangers, três foram a partir dos quartos-de-final. Jacquet utilizou Guivarc’h diante de Itália ('quartos'), Croácia ('meias') e Brasil, tirando-o sempre no decorrer da segunda-parte.

Stéphane Guivarc’h, o terceiro a partir da esquerda na fila de cima, foi bastante utilizado em 1998 (Pedro Ugarte/Lusa)

20 anos mais tarde, Olivier Giroud chegou ao Mundial da Rússia com a boa marca de 31 golos marcados e após mais de dez anos consecutivos a faturar muitas vezes por época. Deschamps não lhe deu a titulardade no primeiro jogo, contra a Austrália, mas desde a segunda jornada da fase de grupos, no embate com o Peru, que Giroud foi indiscutível no onze inicial gaulês. Jogou os 90 minutos contra Peru, Dinamarca, Argentina e Uruguai e foi substituído nos minutos finais contra a Bélgica, nas meias-finais, e frente à Croácia, na final. No total, somou 546 minutos em todo o Mundial, mas conseguiu passar em branco.

Não quer isto dizer que Giroud não tenha sido útil para a seleção de França. Se assim fosse, o técnico dos 'bleus' não tinha depositado tanta confiança no avançado do Chelsea durante todo o torneio. Contudo, não deixa de ser curioso que Giroud, ponta-de-lança puro, tenha passado todos os 546 minutos em que esteve em campo no Mundial sem rematar uma única vez à baliza adversária.

Ainda assim, tanto Stéphane Guivarc’h como Olivier Giroud partilham da mesma característica: são pontas-de-lança, utilizaram o número nove em Mundiais, foram os jogadors mais vezes titulares nessa posição e, no final, levantaram o troféu. Quando assim é, não há problema nenhum.