Fora da Bancada
“Será que alguns deputados não querem saber dos crimes?”, questiona Rui Pinto
2021-05-18 19:45:00
Informático insiste em prestar declarações na comissão parlamentar de inquérito sobre o Novo Banco

Autor de denúncias de alegados crimes praticados através do BES Angola, Rui Pinto manifestou desconforto por continuar sem ser ouvido em sede da comissão parlamentar de inquérito (CPI) à resolução do banco. O PAN já pediu a audição do criador do Luanda Leaks e do Football Leaks, mas essa audição continua por agendar, o que leva o informático a acreditar que há deputados interessados em silenciá-lo.

“Os crimes ocorridos no BES Angola tiveram e têm ainda consequências. A verdade não pode ser enclausurada. Será que alguns elementos da CPI não querem saber o que eu tenho para dizer?”, questionou Rui Pinto, esta tarde, numa mensagem publicada nas redes sociais.

“Será que os contribuintes não têm o direito a saber o que andam a pagar, a quem, e porquê?”, insistiu, referindo-se aos muitos milhões de dinheiro público que têm sido injetados no Novo Banco, a entidade formada a partir da resolução do Banco Espírito Santo.

Em outubro de 2019, Rui Pinto tinha denunciado que havia um inquérito no Ministério Público, parado desde 2015, sobre um alegado desvio de 80 milhões no BES Angola, acrescentando que “o desvio concreto ultrapassou os 600 milhões” de euros.

Através do Luanda Leaks, o informático complicou diversa documentação, “incluindo extratos bancários, que demonstram, entre outros, a criação de empresas meramente instrumentais, depósitos fictícios e transferências bancárias para offshores como as Ilhas Virgens Britânicas e as Seychelles”.

Três meses depois, o PAN anunciava que queria ouvir Rui Pinto no âmbito da CPI sobre o Novo Banco. Essa audição continua sem estar marcada. Poucos dias depois desse anúncio do PAN, uma associação de advogados penalistas, alguns dos quais se têm oposto ao informático no âmbito de outros processos, escreveram ao Parlamento a contestar que o criador do Football Leaks fosse ouvido na CPI.

Sucedem-se as tentativas de me tentar silenciar e impedir que eu seja ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito. Alguns senhores têm medo! Muito medo!”, reagiu, à data, Rui Pinto.

Enquanto criador do Football Leaks, Rui Pinto, de 31 anos, está a ser julgado por 68 crimes de acesso indevido, por 14 de violação de correspondência e por seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada, num processo que decorre no Tribunal Central Criminal de Lisboa, no Campus da Justiça.

Rui Pinto encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e o seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial. Detido na Hungria e entregue às autoridades nacionais com base num Mandado de Detenção Europeu, o arguido esteve em prisão preventiva desde 22 de março de 2019 até 08 de abril deste ano, dia em que foi colocado em prisão domiciliária, mas em habitações disponibilizadas pela PJ.