O ex-presidente da associação Transparência e Integridade, João Paulo Batalha, defendeu no julgamento do processo ‘Football Leaks’ que as revelações de Rui Pinto constituíram um “serviço público ao país” e deram um impulso ao combate à corrupção.
Ouvido como testemunha na 44.ª sessão do julgamento a decorrer no Tribunal Central Criminal de Lisboa, o consultor e ativista na luta contra a corrupção inscreveu as situações expostas pelo criador da plataforma eletrónica num “conjunto muito importante de revelações, como os Panamá Papers”, que, no seu entender, revelaram “muito dos traços deste ecossistema de corrupção sistémica”.
“[Revelações do Football Leaks e Luanda Leaks] têm um significado fundamental, porque trouxeram revelações sobre disfunções do sistema”, afirmou João Paulo Batalha durante a inquirição dos advogados do principal arguido do processo, vincando o impacto social do caso: “Nunca conseguimos estabelecer uma causalidade direta, mas a necessidade de uma estratégia anticorrupção nasce de uma pressão pública. Constituiu um serviço público ao país”.
De acordo com o antigo líder da associação cívica Transparência e Integridade, que admitiu não conhecer em detalhe a amplitude das informações divulgadas, a repercussão das revelações foi internacional, ao criar “um impulso político fundamental, nomeadamente na União Europeia, para o combate à corrupção e o branqueamento de capitais” no espaço comunitário.
Durante a sessão foram ainda ouvidos por videoconferência as testemunhas Adam Gomes, antigo gestor do sistema informático da Doyen Global entre 2012 e 2015, e Melvin Roberts, consultor e gestor de empresas, tendo desde 2017 a seu cargo a direção da Doyen Sports através da empresa Maitland, durante as quais foram analisadas as relações entre as diferentes firmas do universo Doyen e os seus principais representantes.
O julgamento do processo prossegue na próxima quarta-feira a partir das 09:30 com a audição da testemunha Eva Joly, magistrada francesa e antiga eurodeputada com um percurso ligado ao combate à corrupção.
Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.