Fora da Bancada
"Quiseram obrigar-me a empregar beneficiários do rendimento mínimo da política"
2021-06-18 22:55:00
António Oliveira desiste da candidatura à Câmara de Gaia

Por “uma questão de higiene”, António Oliveira desistiu da candidatura à Câmara Municipal de Gaia, nas próximas autárquicas, como cabeça de lista pelo PSD, deixando fortes críticas à “mercearia partidária”.

Numa carta aberta, o ex-treinador confirmou que tinha sido “convidado pessoalmente” por Rui Rio, presidente do PSD, para liderar a candidatura à Câmara de Gaia, garantindo a “ausência de quaisquer condições na elaboração do programa ou das listas concorrentes ao executivo municipal”.

Tal não veio a verificar-se: de acordo com a imprensa local, António Oliveira terá sido confrontado com as exigências de Cancela Moura, o líder da concelhia social-democrata.

“Sempre vivi do meu trabalho. Nunca dependi do partido. Mas também não sou ingénuo, distraído ou mal-informado. Nunca pensei, porém, que a política e os partidos, quando se deixam apropriar por alguns, ainda que localmente, pudessem descer a um nível tão baixo e tão miserável”, referiu António Oliveira, na carta aberta, sem citar nomes.

“Ao longo de três meses, fui sujeito a pressões, intimidações e ameaças. Tentaram impor-me o pior da ‘mercearia partidária’ e tentaram envolver-me nas mais inacreditáveis negociatas de lugares. Enfim, quiseram obrigar-me a empregar os beneficiários do rendimento mínimo da política”, reforçou.

O antigo selecionador nacional garantiu não conhecer um PSD que, em Gaia, “está prisioneiro de quem só lhe faz mal, para fazer bem a si próprio”. “Não quis acreditar que fosse possível fazer política com base nos piores princípios da espécie humana. Mas, aqui, em Gaia, no meu partido de sempre, é o que se passa”, insistiu.

“Ao longo destes três meses, nunca vacilei, nunca negociei e nunca tremi. Hoje, com vergonha do que vi, com uma imensa dor de alma pelo que senti, tenho que dizer que: não quero, não posso e não aceito continuar a encabeçar esta candidatura”, explicou António Oliveira.

Para o antigo jogador e treinador, “isto não é uma desistência”, mas sim “uma questão de higiene”. “Uma recusa de pôr os interesses de uns personagens à frente dos interesses dos 300 mil gaienses e pessoas que escolheram este grande concelho para fazer a sua vida”

Sem nomear “responsáveis, culpados ou traidores”, que “são os mesmos que já vem a prejudicar o partido há anos demais”, António Oliveira salientou que o presidente do PSD “não tem culpa do que se passou”.

Rui Rui “terá sido uma vítima do aparelho, terá sido traído por uma máquina que tudo faz por lugares, cargos e salamaleques”. “Quase sem exceção, estamos a falar de gente sem nome, sem mérito e sem profissão”, continuou.

“Eu não preciso disto para sentir que dou um contributo à sociedade. Eu não preciso disto para agradecer ao meu país tudo o que ele foi capaz de me dar. Eu não preciso desta política. Com certeza encontrarei outros projetos de participação cidadã, talvez até em Gaia, em que possa saudavelmente ter um papel pleno e sério. Preciso muito mais de sentir e de ser fiel aos meus valores. Preciso muito mais de não transigir na minha dignidade”, finalizou António Oliveira.