Fora da Bancada
Audição de Rui Pinto sobre Novo Banco chumbada pelos deputados
2021-05-27 17:50:00
“Não será o PS a travar a corrupção sistémica em Portugal”, reage o informático

A proposta do PAN para que Rui Pinto fosse ouvido na comissão parlamentar de inquérito (CPI) às perdas do Novo Banco (o antigo BES) foi hoje rejeitada após um empate na votação, com PS e CDS a inviabilizarem a audição do informático.

Nas duas vezes em que foi realizada a votação, oito deputados votaram a favor (PAN, PCP, Bloco de Esquerda e PSD) e outros oito contra (PS e CDS), com o deputado da Iniciativa Liberal a abster-se. Entre as votações, registou-se uma acesa discussão entre os elementos da CPI, a propósito da relevância das informações que Rui Pinto poderia prestar e sobre a forma como o informático as obteve, de acordo com o jornal Observador.

Há dias, André Silva, deputado do PAN (o partido que propôs ouvir o criador do Football Leaks na CPI), referiu publicamente que “há partidos que aparentemente não querem que Rui Pinto seja ouvido, porque deve ter informação mesmo muito, muito importante”. “Há aqui claramente manobras e expedientes dilatórios para não ser ouvido”, insistiu o deputado do PAN.

A votação da CPI já foi comentada pelo próprio Rui Pinto, que responsabilizou diretamente o PS por o ter “vetado”, por causa da “simbiose” com “os principais escritórios de advogados” do país.

“A simbiose entre política e os principais escritórios de advogados é uma das marcas deste regime socialista. O sentido de voto dos deputados do PS e as suas justificações eram mais do que expectáveis para alguém como eu, que está convicto de que não será o PS a encetar reais esforços no sentido de travar a corrupção sistémica existente em Portugal”, escreveu Rui Pinto, nas redes sociais.

O informático que esteve na origem de casos como Football Leaks, Luanda Leaks e Malta Files fez questão de deixar “uma menção” a Cecília Meireles, afirmando que a deputada do CDS “substituiu-se aos tribunais, violando a minha presunção de inocência”, o que considerou “atentatório do estado de direito democrático”.

“Em 47 anos de democracia, serei porventura o primeiro cidadão a ser vetado de uma CPI, já durante o desenrolar avançado dos trabalhos. Mais do que o mero veto, deve-se enaltecer o simbolismo da decisão e o seu significado político”, salientou ainda Rui Pinto.

Autor de várias denúncias sobre alegados crimes financeiros, Rui Pinto não vai ser ouvido no Parlamento, a propósito das perdas do Novo Banco, mas prometeu continuar a perseguir “os maiores criminosos deste país”.

“Continuarei a fazer o meu trabalho, na colaboração com as autoridades, com o objectivo comum de caçar os maiores criminosos em matéria económico-financeira deste país. Nisso poderão contar sempre comigo”, finalizou o informático.

O PAN também já reagiu, através das redes sociais, considerando “absolutamente hipócrita” a oposição de PS e CDS e a abstenção da Iniciativa Liberal. “A pergunta que fica é: de que é têm medo?”, questionou o partido.

Através do Luanda Leaks, Rui Pinto tinha denunciado “desvios de dinheiro do BES Angola muito superiores aos oficiais”, na ordem dos 600 milhões de euros, lesando o Novo Banco. Na sequência da divugação dessa informação, o PAN anunciou que ia chamar o informático à CPI sobre as perdas do Novo Banco.

Arguido no processo Football Leaks, Rui Pinto, de 32 anos, encontra-se a responder em tribunal por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada.