Fora da Bancada
"Pinto da Costa não diz nada? Quando há dois penáltis pede uma vassourada..."
2021-07-20 17:25:00
Paulo Morais diz que caso que envolve Benfica merece reação de todos os grandes e da Liga

O regulador do mercado emitiu ontem um comunicado, onde revela que investiga "indícios de irregularidades" suscetíveis de afetar Benfica SAD, informando que está a investigar “infrações” que podem colocar os investidores em risco. Paulo Morais não compreende esta comunicação, considerando que não traz nada de novo. “O comunicado da CMVM é uma deceção”, defende o economista e antigo candidato a Presidente da República.

Paulo Morais, no entanto, aponta o dedo ao futebol, sem poupar nenhum clube, sobretudo os três grandes. Também a Liga é visada, numa análise às suspeições que surgiram após as negociações de ações do Benfica.

O presidente do FC Porto foi particularmente visado por Paulo Morais. "Não compreendo o silêncio de todos os presidentes, em particular de Jorge Nuno Pinto da Costa. Quando há dois penáltis, Pinto da Costa vem à televisão dizer que é preciso uma vassourada no futebol, que é preciso mudar tudo. E agora, que está em questão a credibilidade dos títulos mobiliários de todo o setor, não diz nada?", pergunta.

"Os presidentes de outras SAD não dizem nada? Era importante que viessem condenar o que se passou no Benfica. Trata-se de venda de ações com informação privilegiada, ou venda de ações 'por debaixo da mesa', se me permitem a expressão. Jorge Nuno Pinto da Costa e os líderes das outras SAD deveriam dizer que nos seus clubes isso não acontece. É tão simples como isto. Era só uma frase. Demora 30 segundos dizer 'no meu clube isto nunca aconteceria'. Eu penso é que eles não têm condições para o dizer", acusa Paulo Morais.

Também a Liga "deveria emitir um comunicado, para garantir aos acionistas que, quando investem num clube, estão a comprar um título e não algo que não vale absolutamente nada".

"As SAD são um negócio que está todo ele sob suspeição, até prova em contrário. As administrações das SAD em Portugal podem fazer com as ações de que são titulares tudo aquilo que lhes apetece. É preciso que alguém venha clarificar que as SAD cumprem as obrigações, tal como as outras sociedades", afirma ainda o economista.

A direção de Rui Costa teria de saber o que se passa, de acordo com o professor universitário, que não acredita no teor da nota que dá conta de desconhecimento dos negócios de Luís Filipe Vieira: "Começa a cheirar a podre quando as instituições têm este tipo de comportamento. Quando a direção do Benfica vem emitir um comunicado a diver que desconhecia o negócio mais importante que se passava no universo do clube, eu acho que isto é uma mentira absoluta".

E assim a culpa 'morre solteira'. "A SAD do Benfica não sabia de nada, a CMVM não toma posições e também é ensurdecedor e incomodativo o silêncio dos outros clubes. Os investidores que têm ações do Benfica, do FC Porto, do Sporting, querem saber se têm títulos que valem alguma coisa ou não. Todo o setor está sob suspeita", afirmou.

Nem o regulador escapa a esta visão crítica. O comunicado da CMVM é vazio de conteúdo. "O primeiro ponto serve para alertar os investidores de que há problemas no Benfica. Que há problemas no Benfica, toda a gente sabe, a menos que os investidores morassem em Marte”, ironiza Paulo Morais. 

"O regulador refere que há uma adenda de informação sobre o empréstimo obrigacionista em curso, mas a CMVM não assume qualquer responsabilidade nessa matéria, como deveria assumir. E vai ao ponto de dizer que os investidores devem ponderar os seus investimentos. Ou seja, não diz nada”, lamenta.  

“Mas o que é realmente dececionante é o último ponto, no qual a CMVM diz que há abuso de informação, ou uso de informação privilegiada, e que está a investigar. Ora, uma Comissão de Mercado e Valores Mobiliários não tem de dizer que está a investigar. A Polícia Judiciária também não diz que está a investigar”, aponta ainda o professor universitário 

Paulo Morais argumenta que este comunicado surge por “pressão da opinião pública”, porque “toda a gente já estava perplexa com o silêncio ensurdecedor da CMVM”. Mas considera que o regulador “tinha de intervir”, perante um caso de “transação de ações ou tráfico de ações, que foi o que aconteceu com Vieira, o seu amigo e o investidor norte-americano". 

“O que tinha de acontecer imediatamente era suspender a compra e venda de ações. A CMVM tinha de intervir. Este comunicado poderia ter sido assinado por Pôncio Pilatos, que lavou as mãos e deixou tudo acontecer”, acusa. 

Paulo Morais sustentou ainda que a administração da CMVM integra as mesmas pessoas que “mandavam” no regulador do mercado aquando do colapso do BES. “Nada disto me surpreende, porque a administração da CMVM é hoje constituída pelas mesmas pessoas que mandavam na regulação do mercado em 2014, quando se deu o caso do BES. Isto é um alerta importante para o mercado de capitais português, não apenas para o caso que envolve o Benfica”, afirma, na CMTV. 

“A CMVM é constituída por cinco pessoas. Há dois membros que estão por designar. E quem são os restantes três? A presidente, Gabriela Figueiredo Dias, em 2014, quando foi a hecatombe do BES, estava onde? Na CMVM. Depois, há outro vogal, que se chama João Miguel Almeida que, na mesma altura, também estava na CMVM. Depois, há um terceiro administrador, que coincidentemente se chama Rui Pinto, que em 2014 estava na direção prudencial do Banco de Portugal”, enumera. 

Ou seja, diz, “a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, em 2021, está tutelada por uma administração de pessoas que permitiram que acontecesse em Portugal o que aconteceu em 2014”. 

Os negócios pouco claros que ocorreram no Benfica estão, segundo Paulo Morais, “sem supervisão nenhuma”.