Vem do âmago e é-lhes intrínseco. Na vitória ou na derrota, sempre a ligação, a identidade. Pertença, até. O ser e estar maior do que o golo ou o troféu que se mostra aos céus em festa. O ser e estar maior do que as lágrimas da derrota.
Tudo é efémero no tempo do futebol, seja a glória ou o desaire. E porque tudo se renova a cada jogo, a cada época, há uma coisa que nunca deixa de estar: o apego, a mentalidade, a terra.
Futebol e Vitória são mais do que uma ligação. É um sentimento, vida desde o berço que não encontra explicação no dicionário; para os vitorianos nem a literatura mais conceituada foi capaz de descrever, até hoje, o sentimento deles pelo emblema do Rei, qual bestseller de imensos capítulos para e por escrever.
Vitória B joga na Série B do Campeonato de Portugal
Futebol e Vitória é uma fórmula, que o tempo molda e nunca apaga. É uma pressão constante pelo sucesso. Mas uma paixão e um amor que nenhuma derrota jamais sufoca.
O Campeonato de Portugal tem no Vitória B um nome badalado, um gigante. O Jogo do Povo viajou até Guimarães para conversar com um dos rostos responsáveis pela criação da equipa B.
A turma vimaranense, criada há vários anos, tem vindo a escorregar pelas divisões desde que foi criada, no tempo em que Luís Cirilo era o ‘homem-forte’ do futebol vitoriano de uma estrutura que tinha vários rostos a trabalhar.
Agora que a equipa sabe que ficará novamente no quarto escalão do futebol nacional, viajamos até ao berço da nacionalidade para sentir o pulso à equipa B dos conquistadores, a equipa que por mais vitórias ou derrotas que possa ter, saberá sempre que terá os braços dos adeptos para acolher os ‘branquinhos’.
A conversa começou, desde logo, por perceber que avaliação faz o ex-dirigente à equipa B do Vitória no Campeonato de Portugal. E ao seu percurso.
“É uma visão naturalmente triste”, desabafou Luís Cirilo, ele que embora fora de cargos diretivos no Vitória continua atento a tudo aquilo que diz respeito ao clube que serviu durante várias fases.
O apego, a mentalidade, a terra
“O projeto desportivo que levou à criação da equipa B, aproveitando a abertura da Liga de Clubes nesse sentido, previa que ela competisse na II liga de molde a propiciar aos jovens talentos que subiam da formação e a outros que foram contratados uma competitividade elevada num campeonato que se sabe muito disputado”, contou Cirilo, nesta entrevista ao Jogo do Povo.
A criação da equipa B foi pensada para jogar o segundo escalão do futebol português. Contudo, a turma vimaranense tem estado afastada desse patamar e agora compete no Campeonato de Portugal.
"Ver uma equipa do Vitória a jogar na IV divisão foi um cenário que nunca me passou pela cabeça"
“Era a melhor forma de a qualquer momento estarem preparados para jogarem na primeira equipa como a época de 2012/2013 (a primeira da equipa B) abundantemente comprovou”, recordou Cirilo, lamentando que o Vitória esteja a competir numa divisão tão baixa.
“Ver uma equipa do Vitória a jogar na IV divisão foi um cenário que nunca me passou pela cabeça”, admitiu o ex-dirigente, em declarações ao Bancada, sustentando que, face à experiência que tem no mundo desportivo, não vê mais-valia para potenciar jogadores neste patamar.
“Para lá de ser uma divisão onde os jovens talentos não evoluem como desejado, nem se preparam para subirem à primeira equipa. É um fosso competitivo demasiado grande”, apontou o antigo dirigente do Vitória que foi também governador civil de Braga e deputado na Assembleia da República.
Mas falar de Guimarães e do Vitória, independentemente da divisão é falar de um clube que nunca vai a jogo sozinho.
“Em Guimarães e no Vitória vive-se o futebol com uma paixão que todos conhecem e com uma exigência e pressão que em nada fica a dever à de clubes que ganham títulos”, sinalizou Luís Cirilo, procurando explicar que na cidade do fundador a felicidade está em estar com a equipa, independentemente do resultado final.
“Ser feliz é estar à altura dessa exigência e dessa pressão. E os que o conseguem serão certamente felizes com a camisola do Vitória”, referiu Luís Cirilo.
A equipa do Vitória B garantiu a manutenção no Campeonato de Portugal, na Série B, e ao longo da maratona de jogos alguns atletas destacaram-se. Para Luís Cirilo há um que já poderia estar noutro patamar.
“Neste momento não tenho qualquer dúvida em apontar o Ronaldo Lumungo. Tenho-o visto fazer excelentes jogos e grandes golos. Para ser franco, até me surpreende que ainda não tenha sido chamado, especialmente depois da saída do Nélson da Luz”, observou o antigo vice-presidente do Vitória.
"Em Guimarães e no Vitória vive-se o futebol com uma paixão que todos conhecem e com uma exigência e pressão que em nada fica a dever à de clubes que ganham títulos"
A equipa compete no Campeonato de Portugal e tem feito alguns jogos no Estádio D. Afonso Henriques, a casa que faz palpitar o coração vitoriano. Porém, a formação secundária vitoriana costuma também jogar na chamada Pista Gémeos Castro, em Guimarães, algo que deixa Cirilo com lamentos.
“Jogar na Pista ‘Gémeos Castro’ é um erro que apenas favorece os adversários. Não tem boas condições para os espectadores e os adeptos não gostam de lá ir”, confessou o ex-dirigente do Vitória.
"Sempre que possível a equipa B deve jogar no D. Afonso Henriques"
Assim, Cirilo entende que a Direção poderia colocar a equipa B a jogar mais vezes no D. Afonso Henriques, mesmo num patamar como é o do Campeonato de Portugal.
“A solução ideal seria a conclusão do mini estádio no Complexo Desportivo que terá todas as condições para acolher a equipa B. Infelizmente as obras estão paradas há dois anos e não se sabe quando serão concluídas”, relatou Cirilo, em entrevista ao Jogo do Povo.
“Por outro lado penso que sempre que possível a equipa deve jogar no estádio D. Afonso Henriques. Não só para os jogadores de habituarem ao que é o palco dos seus sonhos mas também porque é o espaço preferido dos adeptos”, desafiou o ex-responsável pelo futebol do Vitória e rosto-forte do lançamento da equipa B vitoriana.
Ainda a respeito das assistências, Cirilo lembra que a equipa B “quando estava na II Liga e lá [D. Afonso Henriques] jogava, tinha maiores assistências que alguns jogos da I liga noutros estádios.”
"Vale a pena termos causas, defendermos o que é nosso, ter orgulho na nossa terra"
Assim, o ex-vice-presidente espera que a equipa B possa fazer mais jogos no Campeonato de Portugal no Estádio D. Afonso Henriques.
Apesar da formação de Guimarães estar num patamar de quarto escalão, Cirilo entende que os braços dos adeptos continuam a acolher a sua equipa. Sempre. E com uma identidade que faz dos vitorianos encherem o peito de orgulho naquilo que lhes pertence, seja qual for a divisão.
(Luís Cirilo com Flávio Meireles, Rui Vitória e Luiz Felipe - treinador da equipa B quando foi criada)
“Vale a pena termos causas, defendermos o que é nosso, ter orgulho na nossa terra e nas nossas instituições”, lembrou Cirilo, em declarações ao Jogo do Povo, onde deixou aquela que é a filosofia que é defendida na cidade que viu nascer Portugal.
“Ser pelo Vitória e não pelas vitórias, como é infelizmente comum no nosso país mas não em Guimarães”, concluiu Luís Cirilo.