Portugal
“Conceição tem contra ele o facto de ser o treinador do FC Porto”
2021-08-02 22:45:00
Pinto da Costa viaja pelo dia em que selou um acordo verbal com o técnico, cumprindo um sonho

No seu gabinete no FC Porto, local onde tomou diversas decisões importantes para o clube, Pinto da Costa viajou pelo dia em que chegou a um acordo com Sérgio Conceição. Não um acordo formal, porque o técnico ainda estava vinculado ao Nantes, mas um aperto de mão que valeu mais do que a tinta de uma assinatura. 

“Já antes de ser o treinador do FC Porto, eu acreditava muito nas suas capacidades. Via a forma de viver as coisas intensamente, o seu amor ao clube. Conheço-o desde os 16 anos, quando veio para o FC Porto como jogador, e acompanhei toda a sua carreira”, enquadra o dirigente do clube da Invicta, no episódio de hoje da série documental ‘Ironias do Destino’, transmitida pelo Porto Canal. 

Pinto da Costa revela que pensou em contratar Conceição quando o técnico orientava o Vitória de Guimarães, mas a escolha acabou por recair em Nuno Espírito Santo. “Esteve iminente a vinda do Sérgio, mas por fatores que poderiam não ser bons até para ele, achei melhor esperar mais algum tempo. E a opção foi Nuno Espírito Santo. Quando o Nuno saísse, eu tinha o objetivo de contratar Sérgio Conceição”, revela.  

E esse dia chegou. Espírito Santo deixa a ‘cadeira de sonho’ livre e Pinto da Costa encontrou o sucessor. “Só que tive um problema: ele tinha renovado com o Nantes”, lembra. 

Até que, num almoço com Luciano D’Onofrio, a 27 de maio de 2017, durante os festejos dos 30 anos da vitória em Viena, Pinto da Costa manifesta ao empresário o desejo de contratar Sérgio Conceição. 

“O Luciano disse-me que o Sérgio tem o sonho de treinar o FC Porto. E que se desvincularia do Nantes”, conta o presidente portista, que ficou entusiasmado com essa possibilidade.

E é no gabinete de Pinto da Costa, com Sérgio Conceição e o empresário belga, que se dá o acordo verbal entre as partes. “O Sérgio diz-me ‘isso nem tem discussão, eu desvinculo-me, eu trato disso'. Ele entusiasmou-me, porque demonstrou audácia. Estava num projeto tranquilo, tinha condições para passar uns anos com êxito, mas foi determinado”, elogia Pinto da Costa. 

A viagem de Conceição para França ocorre no dia seguinte, até porque Pinto da Costa revela a Sérgio Conceição que a sua escolha estava feita. “A partir deste momento, não penso mais em treinador”, disse o dirigente ao técnico. 

O processo de rescisão com o Nantes não foi fácil, mas a “determinação” do treinador permitiu que se consumasse, apesar da forte resistência dos dirigentes do clube francês.  

“Não pudemos pôr no papel aquilo que combinámos, mas para mim o dia do seu ingresso no FC Porto foi 27 de maio, um dia muito especial para o clube, dia que passou a ser ainda mais especial porque o Sérgio, em quatro anos, venceu metade dos campeonatos, duas Supertaças, uma Taça, sendo um dos treinadores de sucesso que passaram pelo FC Porto”, enaltece o responsável portista. 

“Sérgio Conceição tem uma grande virtude: põe paixão naquilo que faz. Não faz por obrigação, não faz porque tem um contrato, faz porque gosta do que faz. E tem a felicidade de fazer aquilo que gosta no clube do seu coração. Ele há de ter muitos clubes e eu tenho a certeza de que irá cumprir com a mesma vontade. Mas a paixão que ele tem pelo FC Porto nasceu aos 16 anos e não é possível, de forma alguma, esquecer isso. Ele tem uma personalidade forte, enfrenta os adversários e tem contra ele o facto de ser o treinador do FC Porto”, afirma Pinto da Costa.  

A este respeito, Pinto da Costa faz um paralelo com José Mourinho, que “passou a ser um gentleman quando deixou o FC Porto”. E diz que, “num clube de Lisboa, Sérgio Conceição ganhava o Nobel da Paz". Veja aqui esse excerto:

O presidente dos dragões recua até ao dia em que Sérgio vestiu a camisola de jogador do FC Porto pela primeira vez, então com 16 anos. A ligação forte entre o jovem jogador e o presidente dá-se por diversas razões, entre as quais o momento difícil que atravessava: a morte do pai. 

“Sérgio Conceição vem para o FC Porto numa fase difícil da sua vida, que coincidiu com o falecimento do pai. Ele ficou sem pai nem mãe aos 16 anos. E quase que foi o FC Porto que o adotou como um filho querido. A vida dele ficou ligada ao FC Porto. E eu tive sempre uma amizade especial, porque conhecia os problemas que ele tinha. Ele não veio por ser meu amigo. Sou amigo de muita gente que nunca vai treinar o FC Porto”, diz, rebatendo, por outro lado, quaisquer sentimentos de paternidade. 

“Sérgio Conceição veio porque eu lhe reconhecia capacidade para fazer aquilo que fez. Não vou dizer que há um sentimento de paternidade, porque pai há só um, mas vejo nele um irmão mais novo, com quem gosto de estar, com quem vibro”, conclui o dirigente.