Portugal
"Quando há processos a envolver o Benfica parece que a justiça trava a fundo"
2023-03-31 10:25:00
"A investigação não foi tão longe quanto eventualmente podia e devia", diz advogado e ex-dirigente do Sporting

Carlos Barbosa da Cruz, advogado e antigo dirigente do Sporting, diz que já consultou o despacho de arquivamento no caso César Boaventura no que ao Benfica diz respeito e admite que, se fosse investigador do Ministério Público, teria alongado mais as averiguações.

"Eu sou um colaborador da justiça e acredito no sistema. Agora, não é a história das bruxas mas quando há processos judiciais que envolvem o Benfica há sempre ali qualquer coisa, parece que a justiça trava a fundo", observou Carlos Barbosa da Cruz, sustentando que o Sporting deve pedir para ser assistente neste processo de César Boaventura.

"Acho que o Sporting se deve constituir assistente neste processo", indicou Carlos Barbosa da Cruz, aguardando pela posição que a Direção de Frederico Varandas irá tomar neste caso.

É que Carlos Barbosa da Cruz diz que após a leitura do despacho judicial não fica esclarecido a respeito da matéria. "Li o despacho de encerramento do inquérito que anda aí a circular na internet e não queria acreditar naquilo que estava a ler porque o despacho, o inquérito, conclui e apura intimidade entre Luís Filipe Vieira e César Boaventura, troca de comunicações frequentíssima", afirmou Barbosa da Cruz.

O advogado diz que "apura este facto, mas depois, relativamente aos crimes e ilícitos de corrupção gravíssimos de que César Boaventura é acusado, vem dizer 'bom mas como César Boaventura não era representante do Benfica, nem tinha uma posição preponderante na estrutura do Benfica, o Benfica não pode ser envolvido'".

"Luís Filipe Vieira foi ouvido?"

Deste modo, Barbosa da Cruz deixa algumas interrogações no ar. "Se há essa relação estreita, unha com carne entre Luís Filipe Vieira e César Boaventura eu pergunto: foram investigados os fluxos financeiros entre eles os dois? Luís Filipe Vieira foi ouvido? Não sei. Não consegui apurar dos documentos que eu li. Mas nada me admira. Na operação E-toupeira também não foi ouvido", lembrou o advogado, lamentando a ação do Ministério Público neste caso.

"Aquilo que eu acho é que o Ministério Público, com toda a franqueza e à luz daquilo que é o senso normal das pessoas, encerrou a investigação contra o Luís Filipe Vieira e eventualmente contra o Benfica, que são duas coisas diferentes, de uma forma que eu não consigo perceber", criticou Barbosa da Cruz, em declarações na CMTV.

Por outro lado, o antigo dirigente dos leões lembra que o processo em relação ao Benfica poderá ser reaberto a qualquer momento. "O Benfica não foi ilibado. O processo foi arquivado e, como sabe, em direito penal um processo pode ser reaberto em qualquer altura desde apareçam outros indícios."

Mas Barbosa da Cruz insiste que não compreende é como não foram inspecionadas pela justiça os eventuais fluxos financeiros entre Vieira e Boaventura.

"Investigação não foi tão longe quanto eventualmente podia e devia"

Se Barbosa da Cruz fosse do Ministério Público, este diz que "investigaria a fundo os fluxos financeiros". "Nesta matéria das ligações de César Boaventura com Luís Filipe Vieira e com o Benfica a investigação não foi tão longe quanto eventualmente podia e devia", criticou o advogado.

"A explicação que consta do arquivamento é, no meu entender, uma explicação curta", referiu Carlos Barbosa da Cruz, sublinhando que pairam no ar dúvidas.

"Por muito que existam explicações, a maioria das pessoas não percebe que o Paulo Gonçalves fizesse todas aquelas investigações por sua conta e risco e iniciativa, como não percebe que o Boaventura andasse ali a prometer sacos de notas".