Na condição de uma das figuras de proa no FC Porto de José Mourinho, que venceu a Taça UEFA e a Liga dos Campeões, no começo do século, Maniche dedica-se atualmente ao comentário desportivo e a negócios empresariais ligados ao vinho. Antigo adjunto de Costinha, Maniche diz que não se vê na pele de treinador e explica as razões.
"Tenho perfil para o ser. Provalvelmente, neste momento, não tenho é disponibilidade mental para encarar essa situação", afirmou o antigo camisola 18 do FC Porto e da Seleção Nacional, realçando que o treinador tem de ter, atualmente, grande capacidade de 'encaixe', algo que não acredita ter. "Ocupa muito tempo, tenho que engolir vários sapos, muitas vezes elefantes, e eu não sou essa pessoa".
Além disso, o ex-internacional português diz que para ser treinador "tinha que estar 24 horas virado para o futebol". "E não quero para esta fase da minha vida", declarou.
Com uma carreira recheada de títulos e conquistas, Maniche não esconde que os seus anos de glória foram passados com o dragão ao peito. Formado no Benfica e com passagem também pelo Sporting, Maniche revela que da carreira de jogador guarda com especial impacto a presença que Pinto da Costa fazia notar das raras vezes em que visitava o balneário dos dragões.
"Ele raramente ia ao balneário. [Certo dia] Foi ao quarto de banho e foi embora. Percebemos que tínhamos que mudar a atitude, só a presença dele dizia 'meus amigos, comecem a correr mais, comecem a jogar melhor porque não estou a gostar'."
Em declarações numa conversa na emissão do Observador, Maniche socorreu-se do exemplo de Pinto da Costa para explicar que há formas de passar uma mensagem que dispensam o uso de certo de tipo de linguagem ou gestos.
"Lá está, não são precisos gritos, não é preciso enxovalhar, não é preciso humilhar. A figura dele bastava só ao entrar no balneário para perceber se as coisas estavam a correr bem ou a correr mal", contou Maniche.
Atualmente, o FC Porto tem Pinto da Costa como presidente e Sérgio Conceição como treinador numa dupla que já rendeu várias conquistas aos azuis e brancos. E para Maniche, a renovação de Sérgio Conceição é algo que vê como positivo para o emblema nortenho.
"Já ganhou títulos, financeiramente reforçou os cofres do FC Porto em quatro anos com duzentos e trinta e tal milhões, penso eu, e isso é um trabalho não só de títulos mas também de reformular o FC Porto que tinha muitos problemas financeiros. O Sérgio Conceição ajudou, com essa valorização de ativos, a projetar o FC Porto para outros voos a nível financeiro e que possibilitam a contratação, neste momento, de jogadores que ele quer para a sua equipa".
Maniche lembra ainda que o seu antigo colega de balneário é hoje em dia "um treinador que conhece a casa, é um treinador que conhece a cidade, é um treinador identificado com os adeptos".
"Por isso, faz todo o sentido. Não esquecendo Pedroto e Artur Jorge, o FC Porto não teve um treinador com tanta mística e com tanta identificação com o FC Porto como o Sérgio Conceição", concluiu Maniche.