Portugal
“O Sporting tem de aproveitar porque a  Champions já era uma Superliga”
2021-04-19 20:50:00
Ex-dirigente da FIFA e adepto leonino exige atitude "pró-ativa" do clube de Alvalade em relação à UEFA

A Superliga europeia, ontem anunciada por 12 dos clubes mais ricos do continente, pode servir como uma oportunidade para o Sporting, defendeu hoje Miguel Poiares Maduro, ex-dirigente da FIFA, jurista especializado em direiro comunitário, antigo ministro e conhecido adepto do clube de Alvalade.

O raciocínio foi explicado com detalhe. Para travar a Superliga, a UEFA vai recorrer à ajuda da União Europeia (UE), alegando que a competição irá colocar em causa todo o modelo europeu de promoção do desporto. O problema, realçou, é que a própria UEFA já vinha a fazer isso com a Liga dos Campeões, prova que nos últimos anos tem agravado o fosso entre os clubes mais ricos e os restantes.

“A Liga dos Campeões tem estado de facto a tornar-se na Superliga, ainda que formalmente não o seja”, sustentou o jurista, para enfatizar a “oportunidade” que se abre para o Sporting. “Qual é o paradoxo e a ironia disto? Para salvar a UEFA, a UE vai intervir de uma forma que vai limitar o poder enorme que a UEFA tem tido até agora, com um abuso do poder dominante”.

Na prática, a UE irá forçar a UEFA a alterar a forma como distribui o dinheiro da Liga dos Campeões, pois o modelo atual favorece os clubes mais poderosos, muitos dos quais estão envolvidos na nova Superliga. E é aqui que o Sporting “tem de assumir um papel pró-ativo”, em conjunto com a Liga e a Federação, para que “o bolo da Liga dos Campeões tenha uma maior capacidade redistributiva” e, por consequência, um efeito de reforço da competitividade das ligas nacionais.

“Em todas as ligas europeias, a competitividade entre clubes tem vindo a diminuir. Vemos isso no campeonato português, os clubes que ganham a I Liga fazem-no com mais de 80 por cento dos pontos. Os clubes com uma presença mais permanente na Champions têm uma vantagem competitiva nas ligas nacionais. O exemplo do Sporting este ano [lidera o campeonato sem ter presença regular na ‘liga milionária’] é uma exceção e estas são exceções serão cada vez mais raras”, insistiu Poiares Maduro, durante um ‘live’ na página de Facebook do jornal Leonino.

Assim, os leões devem, ao mesmo tempo que repudiam a Superliga, alertar a UEFA para os problemas causados por um modelo de Champions que favorece os clubes mais ricos, ao contrário do que a própria organização alegou junto da UE quando esta questionou a centralização dos direitos televisivos da prova. “O Sporting tem de assumir uma posição estratégica de ser frontalmente contra a Superliga, mas ao mesmo tempo deve aproveitar a oportunidade para vincular a UEFA a um modelo mais redistributivo do dinheiro da Liga dos Campeões”, reforçou o jurista e conhecido adepto leonino.

Ainda a propósito da Superliga, o ex-ministro frisou que “não é por acaso que surge neste momento”. Os clubes que avançaram com a iniciativa “sentem-se protegidos” por uma decisão tomada pelo Tribunal-Geral da UE de dezembro de 2020, que confirmou uma sanção imposta pela Direção-Geral da Concorrência comunitária “à federação internacional de patinagem artística”, por esta ter impedido “atletas que tinham participado em competições não autorizadas por essa federação” de competirem pelas respetivas seleções.

“A Comissão Europeia considerou que era um caso de abuso da posição dominante, resultante de um conflito de interesses que a UEFA e a FIFA tambêm têm: são reguladores da atividade e ao mesmo tempo operadores económicos, pois organizam as competições nesse mercado que regulam”, concluiu Poiares Maduro.