Prolongamento
"Não me recordo", diz Nélio Lucas da Doyen sobre negócios com FC Porto
2020-11-24 16:45:00
Ex-administrador da Doyen testemunhou em tribunal no julgamento de Rui Pinto

O antigo presidente da Doyen, Nélio Lucas, assegurou não ter memória em que circunstâncias e quais os detalhes dos empréstimos que o fundo fez junto da SAD do FC Porto.

"Como é que a operação foi feita? Não me recordo", disse Nélio Lucas, em declarações na sessão de julgamento de Rui Pinto, em tribunal, ao ser questionado por Francisco Teixeira da Mota, um dos advogados de Rui Pinto, sobre uma verba contabilizada pela SAD portista com um empréstimo de três milhões de euros do Banco Carregosa, entidade bancária que terá trabalhado com o fundo de investimento.

De acordo com a Tribuna Expresso, quando questionado por Teixeira da Mota se teria participado neste negócio, Nélio Lucas assegurou que não participou.

"Não tive. Não fui eu que o fiz, não o assinei, não me recordo", testemunhou o ex-responsável pela Doyen, antes de ser novamente questionado a respeito de um outro montante, desta feira de 1,5 milhões de euros, que a Doyen teria contabilizado como empréstimo aos dragões.

Novamente questionado se este montante dizia respeito ao valor total do outro montante dos três milhões, Nélio Lucas reiterou não ter memória sobre essa situação.

"Não me recordo, não sei precisar", respondeu Nélio Lucas, que disse ainda desconhecer que o Twente, emblema da Holanda com o qual o fundo chegou e ter negócios, tenha tido problemas com a justiça.

"Não faço ideia", respondeu Nélio Lucas, numa sessão que ficou marcada por uma decisão do coletivo de juízes do processo Football Leaks que desagradou à defesa da Doyen.

O coletivo, recorde-se, indeferiu os requerimentos apresentados pelos advogados da Doyen para travar a linha de inquirição da defesa de Rui Pinto, alegando estar em causa um “escrutínio” dos ofendidos.

Após cerca de uma hora de paragem dos trabalhos da 26.ª sessão do julgamento no Tribunal Central Criminal de Lisboa, a presidente do coletivo, Margarida Alves, regressou com a leitura do despacho, no qual considerou que “não assiste razão à assistente” do processo e que não se registava “nenhuma nulidade ou irregularidade” das questões, invocando a necessidade de “garantir o princípio do contraditório” à defesa do criador da plataforma eletrónica.

Nos requerimentos apresentados logo no arranque da sessão, os representantes do fundo de investimento argumentavam que tinham sido colocadas “questões que não têm nada a ver com o processo” e que “a prova obtida ilicitamente só pode ser usada contra os agentes e não as pessoas ofendidas”, pelo que Nélio Lucas não podia ser confrontado com os documentos a que Rui Pinto tinha alegadamente acedido de forma ilegítima.

Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.