Prolongamento
"Nakajima teve choque cultural com treinador que quer ganhar a qualquer preço"
2021-12-03 16:00:00
"Não conseguiu singrar no FC Porto por questões de conflitos de identidade, culturas, personalidade", diz Carraça

Shoya Nakajima representou um dos investimentos mais significativos, nos últimos anos, no plantel do FC Porto. Porém, o japonês não conseguiu mostrar de dragão ao peito os créditos que revelou no Portimonense e ao serviço da Seleção nipónica. Com Sérgio Conceição, Nakajima ainda teve algumas oportunidades de ir a jogo mas perdeu fulgor e protagonismo que procura ter novamente no Algarve, onde vai alinhando por empréstimo do FC Porto.

Sérgio Conceição admitiu que o rendimento do nipónico "ultimamente, tem sido de bom nível, dentro do contexto Portimonense e não FC Porto". Trata-se de uma situação que mereceu uma análise detalhada por parte de António Carraça, antigo jogador e treinador, que chegou a desempenhar funções como dirigente no Benfica.

"As questões do rendimento estão implícitas numa série de fatores. Até fatores da própria humanidade dos jogadores. É preciso não esquecer que Nakajima estava no Portimonense na sua zona de conforto, num clube simpático, onde era a estrela, tinha um tradutor só para ele, que lhe transmitia toda a informação, e treinadores com determinado sentido, caráter, personalidade e forma de trabalhar", começou por destacar António Carraça.

O ex-dirigente encarnado realça que depois quando chegou ao FC Porto levou um "choque" com a realidade competitiva e de identificação com o clube que o FC Porto tenta aplicar aos jogadores na sua forma de competir.

"Sai do Portimonense e vai para o FC Porto, que é uma instituição que tem uma mística e uma identidade muito própria, onde as pessoas, quando lá chegam, têm de se adaptar o mais rapidamente possível. Eu entendo que o Nakajima não jogou mais e não conseguiu singrar no FC Porto não por falta de talento, de qualidade, porque eu acho que ele tem talento e tem muita qualidade."

Em declarações no canal 11, António Carraça sublinhou ainda que Nakajima "é um jogador que qualquer treinador gostava de ter na sua equipa". "Mas isso sou eu a falar", referiu.

"Eu acho que ele não conseguiu singrar no FC Porto fundamentalmente por questões de conflitos de identidade, culturas, caráter, personalidade. Ou seja, sai da sua zona de conforto, não sabe aquilo que exatamente vai encontrar. É um choque cultural, um grande choque de identidade dos jogadores que querem ganhar a qualquer preço, do treinador que quer ganhar a qualquer preço."

António Carraça referiu ainda que "quer se queira quer não estas profissões jogadores-treinadores são profissões de relacionamentos intensos com treinos, estágios e viagens e isso reflete-se". 

"Para nós, portugueses, que vivemos aqui e conhecemos as pessoas, às vezes é complicado, é difícil, e entendemos aquela mensagem, o tom, a exigência, [mas] imagina alguém que vem da cultura Oriental."