O presidente da LaLiga, Javier Tebas, criticou hoje os clubes que se uniram para a criação da Superliga, mas afastou qualquer tipo de sanção para Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid, os três emblemas espanhóis que pretendiam fazer parte da elite. Para o presidente da liga espanhola, os clubes já sofreram a maior das sanções: a reação dos adeptos de futebol de todo o mundo.
“Toda a gente quer sanções, quer ver ‘rolar cabeças’, mas agora não é o momento de castigar quem quer que seja. É tempo de nos sentarmos e chegarmos a entendimentos. Os clubes já foram sancionados. Foram sancionados pelos adeptos, pela UEFA, pelas instituições, pelos países, pelos Governos, por personalidades como Emmanuel Macron, ou o primeiro-ministro de Portugal. Já tiveram estas sanções, que foram bem graves”, salientou Javier Tebas, numa conferência de imprensa, nesta quinta-feira, ao lado de alguns presidentes de clubes como Villareal, Bétis, Sevilla, Valência e Levante.
Javier Tebas manifestou-se extremamente crítico para com os clubes que pretendiam fundar a Superliga. E rebateu todos os argumentos apresentados por Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, que alegara que aquela competição seria a única forma de salvar os emblemas do país vizinho da grave crise financeira em que estão mergulhados.
“A catástrofe que Florentino anunciava não é verdade. O futebol espanhol já tomou as medidas necessárias para superar as dificuldades. E tem vida para muitos anos. Todos os impostos foram pagos, mesmo durante este duro período de pandemia. Os grandes clubes tiveram mais perdas, durante a pandemia, mas historicamente não é assim. Noutros anos não foi assim. O futebol está vivo, ao contrário desta Superliga, que está morta”, garantiu.
Javier Tebas também retirou credibilidade aos números apresentados pelos promotores dessa prova. E comentou as afirmações de Florentino Pérez, na entrevista que concedeu dois dias depois do anúncio desta Superliga. “O dinheiro de que Florentino fala não corresponde à verdade”, diz Tebas, referindo-se às receitas prometidas para os clubes participantes.
“Esta é uma Superliga Powerpoint. Não há dinheiro para pagar aqueles valores. Estão a mentir”, criticou o presidente da LaLiga, considerando também que “o ecossistema do futebol é para manter”, com competições nacionais a determinarem quem participa nas competições europeias, com o mérito como base. “Não se pode criar a competição que estes clubes pretendem”, salientou, ao mesmo tempo que critica esta elite que descura a meritocracia e descarta os clubes de menor dimensão.
Outro mito que Javier Tebas desmonta prende-se com as prometidas audiências televisivas de uma competição que juntasse apenas os gigantes do futebol europeu. O presidente da LaLiga recorre aos números das audiências televisivas do campeonato espanhol para suportar esta tese.
“Em Espanha, um Villarreal-Sevilla é mais apetecível do que um Manchester United-Manchester City. Não é verdade que todo o mundo queira ver jogos apenas com as grandes equipas da Europa. Por exemplo, o Real Madrid-Liverpool, da Liga dos Campeões, só teve mais 100 mil telespectadores do que o Barcelona-Valladolid", realçou.
O dirigente lembrou ainda que, em vésperas de anunciarem a Superliga europeia, os clubes tinham aprovado a reforma da Liga dos Campeões, entretanto anunciada: “Estes clubes aprovaram a reforma da Champions dias antes de anunciarem a Superliga. Não sei o que querem... Sei é que esta Superliga está morta”.
Mas não foram apenas os clubes que mereceram críticas de Javier Tebas. Também Gianni Infantino, presidente da FIFA, foi visado. “O papel de Infantino preocupa-me. O discurso é contundente, mas os clubes dizem que tiveram o apoio dele... Ceferin [presidente da UEFA] acredita mais em Infantino do que eu. Tenho sérias dúvidas”, disparou.
Agora, depois de todo este processo, Javier Tebas tem dúvidas sobre as intenções de Real, Atlético e Barcelona, relativamente à Champions. E com alguma ironia deixa no ar uma questão. “Vamos ver se quererão participar na Liga dos Campeões no próximo ano”, disse, suportando esta ideia num contrassenso daqueles emblemas: o discurso fatalista de quem não acredita no modelo atual e pretende mudar a realidade.
Os dirigentes que participaram nesta conferência de imprensa, via Zoom, colocam-se naturalmente ao lado da LaLiga e estarão na primeira linha de combate a qualquer prova que não respeite o mérito e o adepto.
“Esta competição destruiria um modelo de negócio assente no mérito e na solidariedade. E acabaria com o direito dos adeptos a sonhar. A sonhar em competir com os melhores, nas grandes provas, nos grandes estádios”, resumiu o presidente do Levante, Francisco Catalán.
Já o dirigente máximo do Villarreal, Fernando Roig Alfonso, o mais antigo líder de clube da LaLiga, lembrou que “o mais belo do futebol é conceder aos adeptos o direito ao sonho”, sendo que a Superliga europeia “iria acabar com essa ilusão”.
O Valência agradece a Javier Tebas por “defender o futebol espanhol”, com esta oposição firme à prova que não vai ver a luz do dia. O clube lembra que “a Superliga provocou danos” e que serão necessários alguns anos para recuperar dos seus efeitos, em particular a divisão entre clubes.
O dirigente máximo do Sevillha, José Castro Carmona, recordou que “o futebol é de todos” e “não se pode destruir a paixão”. Carmona revelou ainda que o clube “não foi convidado”, mas mesmo que fosse declinaria, porque “gosta de conquistar dentro do campo o direito de participar nas provas”.
Também o Bétis, através do seu presidente, Ángel Haro, se manifesta “totalmente contra” a competição e regozija-se por deixar de pairar uma ameaça sobre o futebol europeu. E a reação dos adeptos a esta tentativa de alguns clubes destruírem o edifício do futebol deixa os dirigentes tranquilos em relação ao futuro.