Jogo do Povo
Benfica e Castelo Branco. Um general silencioso na escadaria do sucesso
2023-05-25 16:25:00
"O nível de qualidade tem vindo a diminuir nos últimos anos", diz Rodrigo Dias, defesa do Benfica e Castelo Branco

Lugar mascarado de museu ao ar livre, com emblemáticas referências à história de Portugal e espaços bem cuidados onde se respira portugalidade, Castelo Branco resiste ao avanço do tempo. Encontrar um cartão-postal que sirva de referência a Castelo Branco é, pois, complicado, tal é a variabilidade de espaços que facilmente se reconhecem como sendo 'made in Portugal'. E entre essas referências, alguns chamam de 'embaixadores' albicastrenses, está o Benfica e Castelo Branco, emblema que alarga cada vez mais os seus horizontes no Campeonato de Portugal, sendo uma parada de talentos, onde se afirmam jovens jogadores num futebol tantas vezes adversativo onde o 'mas' está sempre presente.

Foi por lá que o Bancada encontrou Rodrigo Dias, o defesa de 23 anos que, em vários momentos, carrega a braçadeira do clube por esses estádios de futebol fora e que não se deixa ficar em 'mas' nem 'meios mas' e vai sempre à luta numa área de amores e paixões e, outras vezes, de contestação e questionamento. Faz parte!

Natural de Almeirim, nem os 170 quilómetros que separam Rodrigo Dias da terra natal são uma 'pedra' que impossibilitam o 'general silencioso' da defesa do Benfica e Castelo Branco de se aplicar no sonho do futebol.

Em duas épocas no clube, o talento e as capacidades de Rodrigo Dias fizeram com que o 'general silencioso' fosse promovido na patente e no posto.

"Não sou um líder muito vocal", explicou o central, que adota uma postura de não levantar a voz para se fazer presente, reconhecendo, contudo, que precisa de aperfeiçoar essa questão. "É algo que também tenho e quero melhorar", prometeu Rodrigo Dias, certo de que o "exemplo" é um forma de liderar dentro e fora de campo os colegas.

Facebook Benfica Castelo Branco | M. Samora

"Vejo-me mais como alguém que lidera através do exemplo, isto é, tento ter brio e ser o mais profissional possível em tudo aquilo que faço, seja dentro ou fora das quatro linhas, e acho que os meus colegas acabam por me respeitar por isso", advogou o camisola 13 do emblema albicastrense.

Recatado, Rodrigo Dias nasceu com o rio Tejo à vista, em Almeirim, e já leva várias viagens no mundo do futebol desde que entendeu que era com uma bola que se faria o seu trajeto.

O central começou no Footkart, passou por União de Almeirim, Salvaterrense, NS Rio Maior, União de Leiria e o Tondela, ainda na formação, sendo que a sua primeira oportunidade como sénior aconteceu na época 2019/2020, então, ao serviço da UD Santarém.

A viagem pelo mundo da bola levou-o depois às planícies do Alentejo, onde representou o Juventude de Évora, até ser convidado para representar as águias beirãs.

"Nunca mudei por jogar com ou sem braçadeira"

E o impacto na equipa do Benfica e Castelo Branco foi tal que, em alguns encontros, lhe entregaram a braçadeira, embora Rodrigo Dias reconheça que não altera a sua forma de ser e estar transportando a braçadeira ou não.

"Sinto-me bem, é algo que encaro com muita naturalidade. A minha postura mantém-se a mesma, nunca mudei por jogar com ou sem braçadeira", contou o jogador nesta entrevista ao Bancada, onde não escondeu que carregar a braçadeira obriga um jogador a ter uma resposabilidade superior.

"Sim, sinto essa 'responsabilidade' perante o grupo de não querer falhar e tentar ajudá-los, a todos os níveis, durante o jogo", reconheceu o número 13 dos albicastrenses.

No mundo do futebol, quem procura triunfar sabe que tem de enfrentar sacrifícios. Das divisões maiores às mais baixas, dos palcos milionários aos mais modestos, é preciso sempre lutar a cada dia. E o esforço não olha a distâncias, que o diga Rodrigo Dias.

"Desde os meus 17 anos até hoje, somente joguei 'em casa' numa época, que foi no meu primeiro ano de sénior na UD Santarém, ou seja, nas últimas seis épocas desportivas estive cinco fora da minha cidade natal", referiu o defesa, mostrando-se satisfeito por aquilo que tem vindo a conseguir.

"Nos dois primeiros anos, ainda na formação, nos dois anos de júnior, foi mais complicado mas foram anos que me deram bagagem para futuro. Hoje, encaro isso com naturalidade, considero-me mais maduro e já me habituei", detalhou o jovem defesa, que foi uma das figuras do último Campeonato de Portugal e que sonha um dia ser reconhecido nesta arte da bola onde os sonhos são agora "muitos".

Rúben Dias inspira Rodrigo Dias

"O principal é jogar numa das ligas do Top 5 que, na minha opinião, é o expoente máximo da alta performance", admitiu o menino que comanda em campo o Benfica e Castelo Branco, esperando e lutando a cada dia pelo momento em que, como as suas referências, poderá ver gente na fila para os seus autógrafos.

"O jogador que mais observo e tento acompanhar sempre que posso, por ser da minha posição, é o Rúben Dias. Acho que teve uma ascensão meteórica, é um excelente profissional e, claro, pela qualidade que tem", contou-nos Rodrigo Dias, sublinhando que, em criança, era o capitão da Seleção Nacional que lhe fazia brilhar os olhos.

"Quando era mais novo a referência era o Cristiano Ronaldo", explicou o jogador do Benfica e Castelo Branco que, ainda com uma curta carreira, tem já a satisfação diária de pertencer a este mundo da bola. Não admira, por isso, que alegrias não faltem ao camisola 13.

"Todos os dias me dá, é algo que adoro fazer e é aquilo que me move diariamente. Tenho prazer em fazer tudo aquilo a que ele 'obriga', desde a preparação, a recuperação até à competição."

Quem percorre os trilhos do futebol sabe que nem todos os dias são iguais. Existem altos, baixos e os assim-assim. Por isso, Rodrigo Dias assume que o ponto alto da carreira ainda estará pela frente. Ainda terá de subir mais pela escadaria, como quem, em Castelo Branco, trepa a mítica escadaria dos Reis nos Jardins do Paço Episcopal.

"Qualidade no Campeonato de Portugal a diminuir devido a vários fatores, sendo a Liga 3 um deles"

"Estou há quatro épocas no Campeonato de Portugal, acredito que esse momento ainda esteja para chegar noutros patamares", vaticinou um dos capitães das águias beirãs, que ficaram em quinto lugar na Série C do Campeonato de Portugal, com 40 pontos somados.

Convidado a refletir sobre o nível de competitividade que existe nesta prova atualmente, Rodrigo Dias realçou que já viu maiores dificuldades na competição. E a culpa, diz, é da recém criada Liga 3.

"Considero um campeonato competitivo com equipas bem organizadas, bons jogadores, bons treinadores mas acho que o nível de qualidade tem vindo a diminuir nos últimos anos, devido a vários fatores, sendo a criação da Liga 3 um deles", atirou Rodrigo Dias.

O futebol é para muitos um campo de riqueza, poder e ostentação. Mas aos 23 anos de uma vida, o 'general silencioso' sabe que não pode carregar todas as 'fichas' na carreira e, fora das quatro linhas, é nos bancos da faculdade que procura uma segurança. Mas tendo sempre o desporto como pano de fundo.

'Senhor professor' Dias

"Estou matriculado no Ensino Superior aqui, em Castelo Branco, na licenciatura em Desporto e Atividade Física", revelou o defesa, admitindo que "nem sempre é fácil conciliar" os estudos com a exigência de uma equipa neste patamar.

"Treinamos de manhã e maior parte das aulas que tenho também são da parte da manhã", desabafou, advogando que é no "esforço" que tudo se consegue e alcança.

"Com um bocadinho de esforço tudo se faz, não deixo de estar presente nos treinos e tenho conseguido ter aproveitamento escolar, o que também me deixa orgulhoso do esforço e empenho que tenho feito, tanto dentro como fora de campo e, acima de tudo, demonstra que é possível fazê-lo". Palavra de Rodrigo Dias, para quem o encanto do futebol 'ecoa' profundamente pelas ruas de Castelo Branco, onde mora a mítica escadaria dos Reis nos Jardins do Paço Episcopal.