Portugal
António Oliveira faz tributo sentido a Vítor Oliveira, "o mestre dos mestres"
2020-11-30 12:50:00
“É muito difícil encontrar um treinador que tenha feito tantas pessoas felizes” 

A morte de Vítor Oliveira deixou o mundo do futebol triste, pela personalidade que se perdeu. Multiplicaram-se as homenagens, entre as quais a de Fernando Santos. E no programa Trio d’Ataque, António Oliveira, colega de profissão e amigo do mestre das subidas, usou as palavras para fazer mais um tributo.  

“Noutros casos, que lamento profundamente também, estávamos ‘pré-avisados’ para uma desgraça destas, mas no caso do Vítor não. Não tinha nenhum problema de saúde, ainda na véspera estivera a fazer umas brincadeiras com os colegas”, começou por dizer. 

António Oliveira enfatiza que não se preparava para proferir as tradicionais palavras de circunstância. Não. Aquela homenagem era mesmo sentida, justa  

“Eu sei que temos uma tendência de puxar... Um dia vou proibir as pessoas de dizer bem de mim, quando eu morrer. Mas, quando as coisas são verdadeiras, temos de ser justos. Temos de enaltecer aos céus as qualidades das pessoas. O Vítor era uma pessoa extraordinária. Fazia uma sala. Tinha uma humildade enorme, tinha uma piada fina, era um bem-disposto, enchia uma sala”, realça o antigo”, destacou. 

O antigo selecionador enfatiza outras qualidades de Vítor Oliveira: na sua carreira, subiu a pulso, procurou sempre os lugares onde se sentiria feliz e, por isso, espalhou esse sentimento. 

Nunca me apercebi que tivesse tido algum ‘quid pro quo’, ou que reclamasse na vitória ou na derrota. Ele era assim. Era a sua natureza. Era um rapaz que se fez a pulso. Teve convites para treinar mais vezes na primeira divisão, e mesmo fora, mas ele escolheu sempre os clubes onde sentia que era feliz”, realçou 

O Vítor vai ficar para as pessoas como o grande senhor, o grande treinador do futebol. Era o mestre dos mestres, com aquela simplicidade, sem se pôr em bicos de pés. E depois tinha a frontalidade. Se ele tivesse de dizer algo, di-lo-ia, mas sempre com educação, sem subir decibéis, sem criar litígio. Aceitava as coisas com naturalidade. E era um conhecer profundo de todos os segredos que o futebol pode envolver, se é que ainda há segredos”, referiu António Oliveira. 

É uma pena. É muito difícil encontrar um treinador que faça tantas e tantas pessoas felizes, como o Vítor fez, por todos os clubes por onde passou”, prosseguiu, justificando essa ideia com os inúmeros adeptos que celebraram as suas conquistas, as inúmeras subidas de divisão.   

Se se está num clube grande, há toda uma massa associativa que o pode idolatrar. Mas não. Ele se calhar sem se apercebeu, mas contribuiu mais do que qualquer dos grandes treinadores, até do ponto de vista social. Ele percorreu o país inteiro e levava alegria, através do trabalho, do sucesso, das subidas de divisão. Era um grande homem e um homem grande. Era uma pessoa boa, muito consensual”, referiu ainda. 

Enviando “condolências sinceras” à família, e lamentando esta morte precoce – “Nós precisávamos que ele continuasse”, diz – António Oliveira reitera a dimensão da perda. 

Como diz o poeta, não podemos dar a imortalidade aos homens, damos-lhe tempo. Ele teve o tempo dele, infelizmente muito curto. É uma perda muito grande. Mas é mesmo. Não é mais um homem que morre. É uma pessoa extraordinária, um professor do futebol, um catedrático de futebol, que se fez a pulso. O Vítor, de certeza, não deve ter um único inimigo. E quando se morre assim... A ter de ser, que seja assim”, concluiu.  

Vítor Oliveira, treinador com uma longa carreira no futebol português, morreu no passado sábado, aos 67 anos, depois de se sentir indisposto enquanto caminhava na zona de Matosinhos.

O ex-jogador e treinador, que estava sem clube desde que orientou o regresso do Gil Vicente à I Liga, foi assistido no local e transportado para o Hospital Pedro Hispano, mas acabou por não resistir.